sexta-feira, 15 de julho de 2011

Brasil, de volta ao colonialismo ou o país do futuro?


Que o Brasil tem vivido um momento economicamente favorável para seu crescimento não é novidade para praticamente ninguém. A Era Lula trouxe muitos benefícios para a população que gozou de programas governamentais de auxílio à pobreza e à educação, dentre outros, além de reajustes salariais e fácil acesso ao crédito, possibilitando assim a ascensão de uma parcela grande da população das classes mais baixas para a classe média.

Mas essa visão elogiada por muitos como a grande solução para os principais problemas econômicos e sociais vividos por países da América Latina pode estar atingindo seu limite no Brasil. Assim como China e Índia, o Brasil cresceu na última década e chegou a um patamar de destaque no cenário internacional. Porém, assim como China e Índia, o Brasil está começando a mostrar sinais de superaquecimento e fraqueza na economia.

No ano passado, problemas econômicos e financeiros ainda não foram tão aparentes no Brasil principalmente pelo fato de o país ter surfado na onda da alta dos preços das commodities. Porém o grande problema no momento é que o Brasil gasta mais do que ganha e investe pouco. Enquanto o preço das commodities seguir em alta o país poderá se aproveitar dessa comodidade, mas aos poucos os sinais de enfraquecimento serão cada vez mais visíveis, já que a moeda brasileira tem se fortalecido de tal maneira que só torna a indústria e o comércio nacional cada vez mais submissa às importações.

É um processo de desindustrialização puro. Ao passo que as exportações para a indústria brasileira se torna desvantajosa, o mercado passa a focar em produtos importados, tornando a cadeia de consumo interno muito dependente do mercado externo.

De acordo com um artigo publicado no Financial Times, o boom global das commodities trouxe uma melhoria de 30% em termos de balança comercial no Brasil - diferença que ganha com as exportações e o que paga pelas importações. Mas em vez de usar essa vantagem para reduzir as dívidas e impulsionar a economia, o país tem repassado para importações adicionais, como é o caso de eletrodomésticos e carros chineses.

E onde entra a população no meio do problema?

Com a queda do dólar frente ao real, a pressão de alta na inflação é grande e a primeira (aparentemente a única) medida que o governo toma para controlar a inflação é subir os juros e, como vimos, a população brasileira nunca teve acesso tão fácil e direto ao crédito como nos últimos anos. O sistema financeiro nacional é seguro, mas o bolso da população é superavitário até quando? Essa é a questão. O Brasil corre risco de criar uma bolha de crédito.

De acordo com a Serasa Experian, uma agência nacional de monitoramento de crédito, o índice de inadimplência do consumidor brasileiro subiu 22% entre janeiro e junho, o maior aumento em nove anos. O consumidor enfrenta uma redução do poder de compra e um aumento do endividamento, e a culpa cai sobre a inflação e o aperto monetário promovido pelo governo.

Vozes mais otimistas do mercado descartam essas previsões, mas concordam que o Brasil terá de fazer mudanças cruciais se quiser continuar se desenvolvendo. "O modelo Lulista é incompleto", cita Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. "Nós não investimos o suficiente para crescer rápido, por isso estamos passando por estes solavancos."

Portanto, o governo precisará fazer reformas e rever os planos de investimentos para reduzir a dependência econômica dos preços das commodities e poder continuar crescendo nos mesmos níveis e sem sacrificar a economia interna e a população.

Este ano, o "milagre econômico" promovido por Lula ainda permanecerá intacto, já que se projeta uma respeitável taxa de crescimento do PIB de 4%. Com os eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas por vir, o Brasil terá a melhor chance de se livrar do centenário clichê "o país do futuro".

Cabe agora ao governo fazer a parte dele, as commodities não podem continuar sustentando a gastança do setor público e encobrindo o enfraquecimento da indústria. O país precisará de mais investimentos e de reformas públicas, por mais que as projeções para os preços das commodities sejam de alta para os próximos anos.